Oi, André.
XXXXXXXXXXXXX
abraços
Mabel
Há seis meses, a maior vítima do Mandaqui enviou este e-mail ao meu parceiro, editor-sócio da Todavia, pai das minhas filhas, Olga e Madalena, que têm seis anos. O e-mail, amigável e recheado de piadinhas internas do extinto casamento minguado deles, pedia ajuda para ela vender mais o seu livro recém-lançado, publicado por outra editora. André não respondeu.
Vamos fazer catorze anos juntos, e nestes anos mudamos muito, como sói acontecer a qualquer ser humano com a alquimia do tempo. Mas para a vítima (assassina?) do Mandaqui nada mudou, ela tem saudades dela (dele?) e só se tornou mais cínica e amoral.
Tomou um chifre (quem nunca?) durante um casamento imaturo, sem sexo, cheio de mentiras e abusos psicológicos do meu marido e esforços concomitantes para a que a Santinha da ZN (quanto orgulho para ela ser da ZN! Oh!, a colunista do NYT anda de ônibus!) não sofresse tanto. Meu marido deixou de amá-la dois anos antes do fim do casamento e foi imaturo e covarde o suficiente para admitir a si mesmo. E a ela. “Como abandonar uma mulher deprimida que me ama tanto?”
Ele tinha um grupo machista de amigos com quem desabafava, falava mal dos outros, e de assuntos variados e ria. Hoje tenho grupos de mulheres e homens com quem desabafo, sou cruel, falo mal dos outros e rio. Quem nunca? Talvez ela não tenha esse tipo de válvula de escape, já que cultiva amigos no vôlei ou no fórum de tartarugas de que participa ativamente. Bocejos.
Até hoje a Mabel nos assedia de diferentes formas. Este e-mail, que continha seu número de celular (“continua o mesmo”), foi o último assédio antes do podcast. Deve ser o sexto e-mail que essa pessoa com carinha de anjo, sobrancelhas de desenho duvidoso e alma de justiceira nos envia, além de (in)diretas públicas mil. (E de um livro endereçado na cara dura via correio a nossa casa.)
Em um desses seis e-mails, ela confessa que dez anos depois do divórcio, ainda sente falta do meu marido e “dos contatos dele”. Mesmo que o e-mail anterior tenha sido respondido algo como “Seja feliz, Mabel. Abraço meu, da Natércia e das meninas”, ela respondeu cinicamente assim: Beijos a todes. Fazendo troça do gênero neutro.
Em pouco mais de seis meses, o que mudou no caráter do destinatário do último e-mail, datado no dia 17/06/2024, e o monstro que ela pinta no podcast? Eu queria saber. Queria mesmo. Tenho minhas suspeitas, mas minhas conclusões são tristes e prefiro deixá-las em aberto.
Meu marido errou. Mentiu. Foi um crápula imaturo. Há catorze anos. Hoje ele tem 44, uma família, boletos a pagar, angústias existenciais como qualquer um que vive nesse país de merda. E continua sendo crucificado, chantageado, ameaçado por essa senhorinha de Santana desde então. Há CATORZE anos.
Acho que só Jesus na história não cometeu pecados. Não. Só Jesus, não. Ela, a apreciadora de répteis malcheirosos também. Só pode ser, mesmo que tenha instalado um programa de computador para violar a correspondência alheia, com a ajuda da mãe. Dessa personagem ela não fala. (Alô, NSA!)
Poderia ter usado o nome da minha outra filha, Madalena, para nomeá-la, já que usou sordidamente no podcast o nome da minha filha Olga para dar nome a uma personagem.
Aqui em casa, eu, o André e minhas filhas, preferimos gatinhos fofos mesmo. Já ela, pelo visto, parece não se contentar com a familinha de isopor dela e prefere sei lá o quê. Será que o cara com olhos excessivamente aproximados de Sergio Moro com quem ela se casou sabe desses e-mails e correspondências furtivas? Sim, estou certa de que ele deve saber e engolir seco que nem um trouxa, porque ela tem uma característica desumana: não mente nunca.
Como não obteve resposta desse último e-mail, reflito depois das minhas tristes conclusões, preferiu fazer um podcast, depois de CATORZE anos do ocorrido, para assassinar a reputação do meu marido e de homens, nem todos brancos como ela descreveu, que precisam de seus trabalhos e que têm famílias para sustentar, juntos a suas mulheres, que também trabalham. Tudo isso nesse país de merda, onde é quase impossível sobreviver da escrita e do jornalismo.
Eu me pergunto de novo, por que seis meses depois deste doce pedido de favor (foram muitos) e elogios a pessoa do meu marido viraram um ataque cretino via podcast com direito a uma trilha-sonora pândega e uma rajada de metralhadora da moralidade?Usando de um pseudofeminismo para se vingar de um trauma pessoal? Jogar nossa família e muitas outras famílias à cova dos sanguinários leões que alimentam a fortuna de bilionários do Vale do Silício? Desonesta, é o mínimo que eu posso dizer.
Eu já sofri um assassinato de reputação gravíssimo de um escritor, há vinte anos. Eu tinha 24. Neste livro ele me acusava de fazer sexo oral no meu pai, ser viciada em cocaína e de ser estelionatária. Publicou meu nome verdadeiro, inclusive. Meu pai, vivo à época, me aconselhou: “Se alguém disser que você é loira do olho azul você vai virar loira do olho azul, filha?”. Suspirei.
Este escritor hediondo foi acolhê-la logo depois do divórcio dela. Nenhuma surpresa para mim. Outro escritor medíocre violou o diário da ex-esposa e fez uma espécie de livro de pornografia de vingança contra a ex-mulher também. Onde estava a feminista justiceira e impávida da ZN para acolhê-la? Não estava. Ela apoiou o escritor medíocre e se juntou ao coro dos chifrudos baixos e descontentes.
Mais uma vez, onde estava a senhorinha de Santana nesta hora? Cadê a tocha na mão, a cabeça pra cima e o sangue nos olhos de um feminismo antifeminista? Não sou mulher de passar pano para macho escroto, mas, principalmente por ser escritora, não reduzo as pessoas a preto no branco. Onde estava Mabel que fazia pouco caso de pessoas pequenas no programa do Jô Soares, há 16 anos? Será que ela ainda ri dos “anões”? Tá no Youtube para quem quiser ver.
Durante esses anos todos preferi me manter em silêncio. (Nunca me posicionei depois de diversos ataques, nem respondi ao e-mail infantil que ela me enviou.) Pensava que se tratava de uma pessoa triste, imatura e sem amigos, o que ela de fato é. Mas agora vejo o rutilante mau-caratismo querendo barganhar com a difamação de no mínimo quinze famílias para vender seu livro pouco recebido pelos leitores.
O que me espanta é a insistência detalhista e doentia de praticar, CATORZE anos depois, o assassinato de reputação de pessoas que, erraram, machucaram, fizeram merda, mudaram e seguem suas vidas num país dificílimo, principalmente para as mulheres, de se viver de literatura e jornalismo. (Muitos desses amigos, inclusive, incentivaram à época o meu marido a dizer a verdade para a Mabel.)
Pelo que consta, nada na carreira dela foi dificultado ou impedido, ela publicou livros pela mesma editora onde meu marido trabalhava, ganhou prêmios, foi para a China duas vezes, testemunhou a aurora boreal, foi colunista dos maiores jornais do país, escreveu sobre seu trauma em um romance de uma editora de renome e em inúmeras, inúmeras, mídias importantes etc., e sua mãe continuou a ser revisora da revista que meu sogro editava. Não temos culpa de que o que ela escreve é ruim, chato, enciclopédico e não vende. Ou que ela destrata com arrogância pessoas com quem trabalha.
Eles, nossos amigos íntimos até hoje, que cometeram “conversas de vestiário”, têm todo o direito ao perdão, assim como Jesus nos ensinou. (Alô, Suzane von Richthofen!) Isso está na lei, até criminosos têm o direito de refazer suas vidas.
Será que a católica assassina de reputação, que chegou a pedir a anulação do casamento ao Papa (risos), aprendeu isso pelo menos na crisma? Acho que não. Só acho tudo muito deprimente, mórbido, patético e repugnante. Sentir que alguém conclama contra sua família, que está no seu encalço como um chacal, é um sentimento que não desejo nem a ela. Assim, Jesus ensinou à mulher agnóstica, mãe, escritora e feminista de verdade que sou.
Por fim, Mabel vai continuar sendo Mabel para sempre, e aí mora um regojizo bobo meu.
*Desativei os comentários por que as hienas ressentidas estão muito dispostas. E eu tenho mais o que fazer.
Pelo que entendi a narrativa foi contra o seu marido e não contra você. Entendo que cabe a ele responder. É muito típico de patriarcado briga entre mulheres para defender o homem. Logo ele, pessoa maior de idade, capaz e bem sucedido. E a forma como você a descreveu, como falou das características do marido dela, não passou de lavação de roupa suja.
que triste esse texto, quanta violência contra outra mulher. devastador ver que o patriarcado segue vencendo todos os dias, nunca estaremos livres.